Amor-próprio na prática: por que é tão difícil se amar de verdade?

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Falar sobre se amar é o que mais tem estampado os discursos em todos os lugares. Se perder de si mesma amando mais os outros do que a si é o tópico mais falado do momento entre as mulheres na sociedade. Se ame, se valorize, se reencontre. Mas será que nós sabemos o caminho para viver isso? Será que estamos conseguindo nos amar de verdade?

Autoamor x Autocuidado: o que realmente sustenta sua autoestima?

 

Perceba que, hoje, o autoamor quase sempre é reduzido a práticas de autocuidado externo. Isso tem seu valor, claro, mas não sustenta aquilo que realmente estrutura o nosso senso interno de dignidade e de pertencimento à própria vida. Aquilo que, na psicologia junguiana, podemos compreender como autovalor psicoespiritual.

Para Jung, o que chamamos de “psicoespiritual” diz respeito à união inseparável entre psique (corpo e alma) e espírito não como algo religioso no sentido dogmático, mas religioso como a dimensão profunda da vida interior que se manifesta nas experiências numinosas e no processo de individuação (ver: Jung, “Psicologia e Religião” e “Símbolos da Transformação”). O numinoso, para ele, é essa força que nos toca desde o inconsciente coletivo, despertando fascínio, tremor, sentido e transformação. É isso que movimenta a alma além das rotinas e das máscaras sociais.

Por isso, não basta oferecer descanso ao corpo ou pequenos rituais de autocuidado. O amor por si cresce quando conseguimos agir por nós mesmas internamente, nas escolhas que fazemos, no enfrentamento das nossas inferioridades, nos limites que aprendemos a estabelecer e na capacidade de sermos compassivas com as nossas dores, frustrações e medos.

Amar-se é assumir, com honestidade, o trabalho psicoespiritual de cuidar e conhecer o próprio corpo, a própria alma e aquilo que, em nós, pede sentido e profundidade.

Amar a si mesma é voltar para o próprio centro.

É, antes de tudo, respeitar nosso tempo de travessia.

Quando a autocobrança toma o lugar do amor-próprio

 

Quando passamos por momentos angustiantes, desafiadores, que nos tiram a autoestima e nos fazem sentir toda a sorte de sentimentos desconfortáveis, tendemos a ser nossas próprias carrascas. Nós nos tratamos muito mal, nos enchemos de culpa e, ao invés de sentir e dialogar com as nossas emoções e pensamentos, nos obrigamos a sair rapidamente desse estado que consideramos fracasso. Muitas vezes pressionadas pelas necessidades sociais, financeiras e até pelo desconforto com a nossa tristeza e tempo lentificado, dos que estão à nossa volta.

Voltamos, então, novamente à produção, que é muito bem vista pelo modelo de sociedade que sobrevive na tensão e nos leva à ansiedade crônica, às crises de pânico, à autocobrança exagerada, ao perfeccionismo e etc. E se estivermos prontas perdemos a chance de nos confrontarmos com as nossas sombras internas e crescermos.

Quando você perde o amor por si mesma: sinais e consequências

 

O que não percebemos é que não ter compaixão por nós mesmas é não nos amar e se perder do amor por si mesma é não ouvir seus mais profundos sentimentos e desejos. Ao nos perdermos, ultrapassando todos os nossos limites, nosso corpo adoece, nossa alma adoece, nosso espírito se aprisiona.

Crise e reencontro na psicologia junguiana

 

Quando chegamos ao extremo dos limites, não é só uma perda de nós mesmas, mas também uma possibilidade de reencontro. Na psicologia junguiana, acreditamos que sintomas são convites para ouvir nossa psique e nos reencontrarmos. A nossa própria psique nos leva ao caminho de retorno, mas não sem confronto com o que acreditávamos saber de nós mesmas, não sem nos enfrentarmos no espelho interno.

Crescimento emocional não é romantizar a dor

 

Ver a beleza do processo não é sobre normalizar o sofrimento nem ignorar as situações sociais externas que nos fazem adoecer. Pelo contrário, é confrontar aquilo que é considerado normal, mas que, na verdade, é adoecedor para nós. É, apesar de nos perdermos, crescer e encontrar força interna para não aceitar o que nos faz mal, exigindo mudanças que nos permitam ser seguras, livres e saudáveis.

Travessias amorosas e autoconhecimento

 

Já passei por algumas travessias assim. Até hoje, e de longe, a mais desafiadora foi meu último relacionamento. E se me perguntassem: “Você se arrepende? Voltaria para não viver essa dor?” Eu responderia: não, nem um pouco. Eu não seria quem sou hoje sem me perder e me reencontrar.

Espero que, todas as próximas vezes que eu me perder, eu me reencontre logo. Que novamente eu tenha apoio para enxergar a beleza do processo, apesar da dor.

A jornada de se reencontrar: meu trabalho com mulheres

 

Por isso, eu tenho um imenso prazer em te acompanhar nas suas travessias na dor e na alegria. Assim como eu sempre sou guiada em minha travessia, quero também te dar a mão, seja na psicoterapia, nos círculos de mulheres e em qualquer outro trabalho, vou ser honrada em te acompanhar. Se ainda não acompanha de perto entre nos canais que sua intuição te convidar na página Home.

 

Resumos rápidos para orientar sua leitura se gostar de conteúdos técnicos.

 

  • Jung — Os arquétipos e o inconsciente coletivo

Mostra como crises, sintomas e emoções profundas são mensagens simbólicas da psique.

Ajuda a entender por que nos perdemos e como o inconsciente guia o caminho de volta.

  • Jung — Aion: estudos sobre o simbolismo do si-mesmo

Explora o Si-mesmo como centro interno que tenta emergir nos momentos de ruptura.

Traz a visão da crise como oportunidade de reencontro com a própria essência.

  • Jung — Dois ensaios sobre psicologia analítica

Apresenta a individuação e o encontro com a sombra como partes inevitáveis do crescimento.

Mostra como confrontar o que evitamos pode devolver energia e sentido à vida.

  • Von Franz — A interpretação dos contos de fadas

Revela como contos simbolizam processos profundos da alma em momentos de crise.

Ajuda a enxergar travessias internas como jornadas de transformação.

  • Barbara Hannah — The Animus: The Spirit of Inner Truth in Women

Explica como o diálogo interno com o animus estrutura a verdade emocional da mulher.

Ilumina conflitos internos que surgem nas dores amorosas e nas transições de vida.

  • Emma Jung & Von Franz — A lenda do Graal

Apresenta a jornada simbólica da alma que atravessa o vazio para encontrar sentido.

Mostra que a ferida pode se tornar caminho quando acolhida com consciência.

  • Murdock, Maureen — A Jornada da Heroína

Mostra a trajetória de autoconhecimento e reconexão com o feminino interior.

Explora crises, confrontos com padrões sociais e a reconquista da força e essência da mulher.

 

Referências

 

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo (Obras Completas, vol. 9/1). Petrópolis: Vozes, 2016.

JUNG, C. G. Aion: estudos sobre o simbolismo do si-mesmo (Obras Completas, vol. 9/2). Petrópolis: Vozes, 2018.

JUNG, C. G. Dois ensaios sobre psicologia analítica (Obras Completas, vol. 7). Petrópolis: Vozes, 2014.

VON FRANZ, Marie-Louise. A interpretação dos contos de fadas. Petrópolis: Vozes, 2010.

HANNAH, Barbara. The Animus: The Spirit of Inner Truth in Women. In: Animus and Anima. London: James Clarke & Co., 1951.

JUNG, Emma; VON FRANZ, Marie-Louise. A lenda do Graal. Petrópolis: Vozes, 2018.

MURDOCK, Maureen. A jornada da heroína: a busca da mulher para se reconectar com o feminino. Tradução de Sandra Trabucco Valenzuela. 1. ed. São Paulo: Sextante, 2022. ISBN 978‑65‑5564‑332‑9.

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